Este artigo tem como objetivo compreender o uso educativo do cinema na divulgação científica no âmbito de uma atividade não formal de ensino, que incluía o debate com um convidado após a apresentação do filme, do gênero ficção científica, “A Origem” para uma audiência diversificada (estudantes universitários, moradores da cidade e turistas). Analisamos o discurso empreendido pelo convidado considerando interfaces entre ciência, filosofia e arte, sob a perspectiva histórico-cultural, teoria da atividade e do materialismo histórico e dialético. Os resultados apontam para diferentes estratégias enunciativas, dentre elas: a mobilização de saberes de distintas esferas de criação ideológica - ciência, arte e filosofia - enquanto sistemas estruturados de produção e atuação humana; e o estabelecimento de vínculos ontológicos (ciência-realidade; ciência-ficção e filosofia-ficção) com os objetos discursivos da sessão comentada de cinema. O caso analisado mostra, ainda, que atividades educativas podem ser melhor compreendidas como compostas por subordinação de ações estruturadas e conscientes.
This article aims to analyze two biographical films of Stephen Hawking in order to identify the representations of the scientist present in cinematographic works. For this, the investigation was based on film analysis and categorization following the main representations identified in the literature. The analysis identified the most common representations present in the scenes and sequences in which the protagonist acted, taking into account the context for certain actions of the scientist. The results indicated that the analyzed works, which belong to a biographical genre, are also bound to permeate stereotypes that contribute to a distorted view of the scientist and scientific work, just as it happens in other cinematic genres.
This paper investigated the interactions between the museum educator and a class from a public school during a visit to a science museum in the state of São Paulo. The concept of dialogism, proposed by Bakhtin and the Circle, is used as a theoretical reference for analysis. The methodology adopted was the case study. The data were collected in audio and video; the excerpts were selected and transcribed for analysis. In both parts analyzed, the dialogue was centered on and conducted by the museum educators and their knowledge, instead of the students, and there were difficulties in establishing a communication that considered different interpretations of the objects. The results indicate the recurrence of two types of interaction: discourses with the shift of speakers controlled by the museum educator and discourses that silence students, both classified as monologic. In this sense, there are still challenges to be explored in future studies and practices of initial and continued professional qualification of these educators.
Abordam-se as principais interpretações usadas para compreender a divulgação científica como reformulação do discurso científico e como um gênero discursivo próprio. Ambas as interpretações são analisadas criticamente, uma vez que as características do discurso de divulgação científica não são equivalentes aos parâmetros para a tradução, nem compatíveis com os critérios para compreendê-lo como um gênero discursivo próprio. Por fim, ressalta-se que a divulgação científica deve ser compreendida como práxis objetivada por atividades desenvolvidas em meio a diversas esferas de criação ideológica.
Efeito indireto do nível socioeconômico sobre a proficiência em matemática.
This work aims to evaluate the evolution of chemical bonding concepts of high school students at public schools in southern Brazil. For this, we built the epistemological profile of each student who took part in a teaching-learning sequence (TLS) about this topic, based on the foundations of Bachelard’s theory. Following the principles of the qualitative survey, we applied questionnaires to monitor the students’ ideas. The results revealed that the construction of knowledge took place by overcoming epistemological obstacles linked to the realist and empiricist philosophical zones. Most students (55.2%) presented a mostly rationalist profile at the end of the research, but misconceptions already found in the literature constitute strong barriers to the construction of knowledge, among which the nature of chemical bonds and chemical stability stand out.
Esse artigo apresenta resultados de entrevistas com universitários cotistas, de baixa renda, ingressantes no início de 2013 em cursos prestigiosos da Universidade Federal de Ouro Preto. Para as entrevistas foram selecionados seis estudantes de baixa renda, pertencentes aos cursos de Medicina, Direito e Engenharia Civil. À luz da Sociologia da Educação, buscou-se nos relatos, compreender as condições de acesso e permanência, e conhecer as experiências, oportunidades e desafios dos cotistas de baixa renda na graduação. Os depoimentos revelaram que, embora enfrentem dificuldades financeiras, acadêmicas e de sociabilidade principalmente no início do curso, esses jovens apresentam disposições que culminam em oportunidades de crescimentos acadêmico, pessoal e profissional.
Este artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica que analisou fatores escolares e sociais associados ao desempenho dos alunos na transição do 5º para o 6º ano. Os resultados indicam que são vários os fatores que afetam os alunos na transição escolar, como a entrada na adolescência, a adaptação a uma nova cultura escolar, a mudança da monodocência para a pluridocência, as exigências das disciplinas escolares, a fragmentação dos tempos e espaços, e as relações entre alunos e professores. Embora tais fatores estejam comumente presentes nos percursos de escolarização, eles afetam cada educando com maior ou menor intensidade, não sendo possível inferir um padrão de situação escolar vivenciado.
Este artigo discute resultados de um estudo sobre práticas de acompanhamento escolar em famílias de uma localidade rural. Com metodologia qualitativa, foram realizadas entrevistas com famílias de dez estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental, sendo cinco com bom desempenho escolar e cinco em situação de baixo desempenho. Os resultados indicam que, embora tenha se confirmado um impacto da distância entre os estilos educativos das famílias e a cultura escolar nos resultados das crianças, assim como nas percepções dos familiares sobre o fracasso e o sucesso escolar, as famílias rurais pesquisadas desenvolviam um conjunto de esforços no quadro da vida escolar dos filhos e se mobilizavam, mesmo que em grau e modo diferenciados, para atender às demandas da escola.
O presente artigo problematiza a formação docente em relação à subjetividade, à alteridade e à diferença, especialmente relacionada às pessoas com deficiência e às políticas inclusivas. Ao abordar a trajetória das pessoas com deficiência e as concepções segregadoras que as marcaram ao longo de décadas, destaco a formação docente para a inclusão considerando o tripé, buscando dispositivos que o alcancem e rompam com modelos standards que invisibilizam e segregam o sujeito. O referencial teórico acerca da relação com o saber cunhada por Bernard Charlot atravessa o trabalho, concebendo o sujeito em relação consigo mesmo, com o mundo e com os outros, mediados pela cultura e pela linguagem, incidindo em mobilizações que perpassam a formação docente. A Conversação, introduzida pela Psicanálise, utilizada aqui como metodologia de pesquisa, possibilita às mulheres-professoras a invenção de novas saídas para lidar com o mal- estar, somada às visitas aos museus brasileiros, constituindo-se, assim, em dispositivos de intervenção. O resultado desse trabalho visa à constituição de uma experiência singular, promovendo efeitos de deslocamento físico e psíquico em mulheres-professoras em relação à arte e à cultura no projeto intitulado formação ética e estética de mulheres-professoras em uma experiência de alteridade.
O presente artigo analisou como as noções sobre gênero e sexualidades têm emergido no contexto da Educação Física. Para isto foi realizado um levantamento bibliográfico para situar o debate acadêmico sobre a questão. Também foram feitas entrevistas semiestruturadas com professores (as) dessa disciplina. As análises dialogaram com a noção de reconhecimento de Judith Butler (2015) e com um escopo teórico pertinente a essa perspectiva. As análises apontam um número reduzido de pesquisas diante dos debates já realizados na área da Educação, de modo específico naqueles trabalhos que analisam a formação docente. As entrevistas indicaram uma apropriação incipiente de noções que se referem a gênero e sexualidades entre docentes da disciplina. Estes (as) profissionais apontam uma discussão mínima dessas noções nos processos de formação docente. Por fim, as análises finais indicam que esse contexto produz formas precárias de reconhecimento acerca dos direitos LGBTQIA+, algo que prejudica a produção de uma crítica à cisheteronormatividade e dificulta um enfrentamento mais efetivo da lgbtfobia no contexto da disciplina.
Usando como mote a canção “Peace or Violence”, em que o artista belga de ascendência ruandesa Stromae questiona se o “V” é um símbolo de paz ou violência, este artigo analisa os discursos de duas notícias para pensar os processos de inclusão escolar pela confissão identitária de pessoas que não se enquadram na heterocisnormatividade regida pela branquitude. As narrativas midiáticas apresentam processos de violência institucional direcionadas à performance de gênero e à sexualidade de estudantes. Questionamos como as identidades são assumidas pelas instituições em práticas que visam a inclusão, mas também podem reverberar em violências, entrando em um debate existente sobre os ganhos e perdas no uso das identidades como estratégia de acesso a direitos perante uma matriz de dominação em que diferentes marcadores identitários se interseccionam.
O presente artigo é resultado de uma pesquisa de mestrado que analisou como a escola tem se tornado um local de crescentes disputas sobre gênero e sexualidades. As fontes de pesquisas foram grupos focais com professores/as e um breve levantamento bibliográfico para contextualização e fundamentação das análises. A perspectiva teórica dialogou com as noções de discurso, governo e regime de verdade em Michel Foucault, bem como noções de gênero e reconhecimento em Judith Butler. As análises indicaram que a despeito da LGBTfobia presente nas escolas pesquisadas e dos ataques que sofrem professores/as acusados/as de propagar uma suposta “ideologia de gênero”, muitos/as deles/as, assumindo uma posição de coragem, têm sido importantes articuladores/as da resistência ao recrudescimento do discurso antigênero.
O presente texto faz parte de uma investigação que busca pensar os direitos humanos das pessoas trans problematizando a transfobia em diferentes contextos sociais. Propõe a noção de direitos humanos pela perspectiva da interculturalidade ao mesmo tempo que situa a precarização da vida de travestis e transexuais pela transfobia. Numa perspectiva heterodoxa dialoga com teóricos díspares como Boaventura Souza Santos e Judith Butler, porém aponta a importância de trazer inteligibilidade para os rostos de travestis e transexuais, partindo do pressuposto de sua invisibilidade produzida por lógicas cisheteronormativas. São estes rostos que revelam uma alteridade exigente, uma terceira margem que não vemos, que não tocamos, que não conhecemos, por isso precisamos ouvir suas vozes, tocar suas existências para conhecer suas histórias. Talvez assim, nós poderemos colaborar na produção de reconhecimento dos direitos humanos das pessoas trans.
Este artigo tem como objetivo ampliar a discussão dos resultados de pesquisa de mestrado em Educação acerca dos reflexos da branquitude no ensino superior brasileiro, a partir de dois aspectos centrais: “a expressão da branquitude na carreira de magistério superior” e o “privilégio branco”. Por meio de um referencial teórico que discute o racismos institucional na educação à luz dos estudos críticos da branquitude brasileira e estadunidense, buscamos examinar o processo da integração racial da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), de 1969 (ano de fundação da instituição) até 2019, localizando, na sub-representação de não brancos, a expressão da branquitude na instituição, assim como no processo de implantação da Lei nº12.711/14, que institui a Reserva de Vagas para Negros/as (RVN) no funcionalismo público federal. A discussão abre caminho para análise de aspectos da racialização da subjetividade e do “privilégio de raça”, que foram examinados a partir de trechos de entrevista realizada com uma docente efetiva há 20 anos instituição. Os resultados encontrados reiteram a complexidade do tema e podem se tornar ainda mais densos quando incluídos em espaços de decisão. Isso demonstra que a compreensão objetiva das desigualdades raciais na universidade precisa de instrumentos objetivos de compreensão do seu efeito, mas estes devem caminhar em conjunto com diálogo amplo e transparente junto aos docentes, favorecendo a “autoconsciência racial” e, logo, potencializando transformações institucionais.
Este texto parte da memória de duas organizadoras deste dossiê para pensar como abordagens interseccionais têm marcado os ativismos LGBTI, especialmente de travestis, mulheres e homens trans, e pessoas transmasculinas. A partir dessa reflexão propomos demonstrar que a academia tem aprendido com esses movimentos estratégias de desestratificação dos saberes, algo possível notar nas práticas de pesquisa e produções de saberes dos textos que compõe o presente dossiê. Neste se analisa os campos da formação inicial e continuada de trabalhadores e trabalhadores e nos diversos espaços educacionais.
O presente artigo analisou os desafios do desenvolvimento psicossocial no contexto da educação básica, a partir de discursos acerca de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Como metodologia de pesquisa, elegeu-se o levantamento bibliográfico, bem como a entrevista narrativa com uma mãe de duas crianças diagnosticadas com a Síndrome de Asperger, que entendemos dentro do TEA. Utilizamos a noção de reconhecimento a partir de Butler (2015) para dialogar com os objetivos da pesquisa. Os resultados indicaram como os processos de reconhecimento das pessoas com deficiência no contexto escolar ainda são insuficientes, por isso exigem formas de resistências aos discursos de assujeitamento destas pessoas. As investigações também indicaram a importância de cooperação entre familiares e profissionais da educação para o reconhecimento das pessoas com deficiência. Por fim, as análises destacaram a luta de uma mãe, mobilizada pela razão e pelos afetos, nas relações de poder e resistência no contexto de uma educação inclusiva ainda insuficiente.
A obra Debates sobre educação no Brasil: olhares interdisciplinares volume 03 teve por finalidade dar visibilidade para o debate em torno da educação brasileira sob diversos olhares, isto é, como cada área do conhecimento (Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Linguagens, Códigos, Matemática e suas Tecnologias) vem sendo aplicada no âmbito escolar, desde a educação básica ao ensino superior. Buscou-se discutir os entraves que historicamente assolam a educação, bem como os novos problemas que desafiam os educadores/as e educandos/as no cotidiano escolar.