O artigo trata do encontro entre a Educação e Cultura Popular e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no intuito de reconhecer traços da expressão cultural dos estudantes nas propostas pedagógicas de duas escolas brasileiras. A face cultural da identidade dos jovens e adultos é basilar à qualidade da EJA e subsidia a formação do educador para atuar na área. Os dados qualitativos construídos com observação, entrevistas e acompanhamento de quatro (4) estudantes em roteiros culturais apontaram que eles são produtores e consumidores da cultura local e participantes das atividades culturais escolares oferecidas. Os pontos aqui levantados por meio da escuta aos estudantes mostraram não só especificidades dos sujeitos que compõem a EJA, como também o conjunto cultural do qual fazem parte. Este estudo mostrou que a cultura popular ainda é tímida nas propostas pedagógicas, o que demonstra a necessidade de se estabelecer diálogo entre as demandas educacionais e culturais.
Este trabalho examina a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Centro de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab), focalizando arranjos espaciais, o lugar simbólico da professora e o material didático usado em sala de aula. Conquanto não seja propriamente um local religioso, o Cenarab é marcado por símbolos de cultos de matrizes africanas que interferem na experiência educativa da EJA. Fruto de uma pesquisa qualitativa, o trabalho coloca em relevo os conceitos de política de identidade, reconhecimento e currículo silencioso. Tomando como referência a obra Movimento Negro Educador de Nilma Gomes (2017), recorremos aos estudos de Gonçalves, McLaren e Frago. Por meio de entrevistas semiestruturadas e observação participante, constatamos que a proposta da EJA pode contribuir para construção de uma sociedade em que o diferente não seja tratado com desprezo, nem como ameaça.
O dossiê Educação e suas Interfaces com Administração, Contabilidade e Economia: Políticas e Saberes vem a público em momento desafiador para o financiamento da educação brasileira, diante do processo de implementação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) que passou a ser um mecanismo permanente a partir da promulgação Emenda Constitucional n° 108/2020. Para uma ideia mais precisa de sua importância, em 2019, o Fundeb redistribuiu 65,5% do total dos recursos destinados ao financiamento das escolas públicas de educação básica sendo, portanto, basilar para a garantia do direito à educação para 39,3 milhões de crianças, jovens e adultos no Brasil (82,1% das matrículas da educação básica do país em 2019). Neste contexto, este artigo apresenta as contribuições dos 10 artigos aprovados no dossiê vis-à-vis aos desafios atuais do financiamento da educação no Brasil nas seguintes temáticas: (a) Custos educacionais; Custo-Aluno Qualidade (CAQ); e desigualdades das condições de oferta entre escolas e localidades; (b) Mecanismos de equidade das políticas de financiamento; (c) Federalismo e desigualdades na capacidade de financiamento; (d) Dinâmica política e o processo de decisão parlamentar nos processos legislativos de aprovação do Fundeb; (e) Natureza jurídica das despesas em manutenção e desenvolvimento do ensino; (f) Federalismo educacional e governança do Plano Nacional de Educação; (g) Financiamento, remuneração e valorização docente; e (h) Financiamento da Educação Básica no Mercosul em perspectiva comparada.
Explora-se analiticamente a contratualização de resultados na educação via abordagens da Teoria da Agência e Instrumentos de Ação Pública. Parte-se da reconstituição empírica de reformas educacionais empreendidas por GO, MG e SP, no período de 2003-2014. Toma-se como variável dependente um conjunto de ações como estrutura de incentivos, controle de absenteísmo docente e dispersão de oferta para Organizações Sociais (OS’s). Assume-se que essas ações podem ser explicadas a partir das duas abordagens teóricas. Empregaram-se pesquisa documental e bibliográfica. Fornecem-se evidências de que o uso de ambas as perspectivas teóricas pode contribuir para a análise de escolhas de políticas educacionais desenhadas a partir do gerencialismo.
Discutem-se os limites das políticas educacionais universalistas, no âmbito do financiamento educacional, para a redução de desigualdades raciais, apresentando subsídios para se pensar a construção de um índice de alocação equitativa de recursos financeiros na perspectiva do VAAR/FUNDEB. Integra-se aos pressupostos selecionados um princípio de diferença e de justiça corretiva, de modo a evidenciar o peso do atributo racial na medida de equidade disposta pela Lei n. 14.113 de 2020. A postura interpretativa assumida pelo trabalho defende que a superação das desigualdades educacionais raciais exige que o Estado avance no pressuposto de igualdade de tratamento no aporte de recursos às escolas.
Esse relato de experiência traz as atividades pedagógicas desenvolvidas na E. E. Padre José Epifânio, em Barra Longa/MG, atingida pelo rompimento da barragem de Fundão (RBF) em 2015. A escola, reconhecida pela SEE/MG como Escola do Campo desde 2016, encontrou no diálogo, planejamento e na formação continuada dos professores, um caminho para articular a alimentação escolar, a agricultura familiar e os impactos do RBF como eixos de sua prática pedagógica. A discussão desses temas pela escola resultou num projeto coletivo organizado por Áreas de Conhecimento, em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto, e adaptado ao contexto da Pandemia da Covid-19. Este processo de formação continuada fomentou a organização de sua prática pedagógica durante o período de atividades remotas, produzindo materiais didáticos como seminários online, cartografia socioeconômica, entrevistas e vídeos. O principal resultado alcançado foi a escola se reconhecer, por sua orientação e prática, como sendo do Campo.
Discorrer acerca da criação da Universidade Federal de Ouro Preto (1969) e analisar o papel da Escola de Farmácia nesse processo é o intuito deste artigo. Através de pesquisa bibliográfica e de ampla investigação documental realizada no Arquivo Histórico da instituição corrobora-se que o curso farmacêutico de Ouro Preto além de ser pioneiro e de se manter perene na cidade de Ouro Preto desde o século XIX, também exerceu papel primordial na criação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), sendo um centro de referência e expansão educacional na região antes mesmo do seu processo de federalização e mesmo após a sua incorporação à UFOP.
Este artigo tem como objetivo compreender as concepções do humanista Erasmo de Rotterdam sobre a educação das crianças, partindo da análise de duas importantes obras: De Pueris (“Dos Meninos”) e De Civilitate Morum Puerilium (“A Civilidade Pueril”). O enfoque recai sobre as elaborações do autor quanto à importância da instrução infantil para a formação do homem moderno, civilizado, racional e sobre os métodos educativos erasmianos que deveriam ser empregados por pais e preceptores nesse processo. Busca-se, ainda, entender como a disciplinação corporal, na visão de Erasmo, contribuiria para o sucesso desse projeto pedagógico, que almejava a constituição de uma nova humanidade.
Este artigo trata da Inquisição no Brasil e a atuação dos inquisidores no modus operandi processual do tribunal eclesiástico do Santo Oficio em Lisboa. Os documentos fontes indicam parte do que foi a inquisição portuguesa no Brasil no processo de colonização do território. Busca-se compreender o rito processual por meio da atuação dos inquisidores, topo da organização hierárquica do Santo Oficio da Inquisição Portuguesa. Para tal, se fez necessária à análise de fontes documentais como regimentos, manual de inquisidores, e processos de réus acusados por diversos crimes no tribunal de Lisboa. O estudo foi realizado a partir de fontes primárias e ilustrado por um caso na colônia brasileira, além de fornecer dados sobre os variados processos, julgados no tribunal do Santo Ofício de Lisboa, uma vez que a colônia portuguesa na América não teve tribunal próprio. Espera-se que esse estudo abra caminho para as outras investigações sobre o objeto no leque dos mais variados processos da Inquisição no Brasil no período colonial.