O presente artigo fundamenta-se nos estudos culturais e utiliza-se de metodologia de cunho qualitativo. Tem caráter bibliográfico e auto etnográfico. Objetivamos problematizar como a temática Danças de Salão é trabalhada na escola, tanto no ambiente curricular, nas aulas de Educação Física, quanto no extra curricular. Utilizamos para tal, a prática docente de um dos autores em uma escola pública da periferia da cidade de Juiz de Fora. Foi possível perceber potencialidades dessa temática na escola que perpassam, dentre outros, pela valorização de elementos vinculados a cultura popular brasileira. Foram percebidos também gargalos relacionados, por exemplo, a questões de gênero. A relevância das discussões aqui realizadas se dá pelo fato de que, apesar ser legitimado por documentos oficiais como a BNCC (BRASIL, 2018) e ser defendido por diferentes autores como Sborquia (2002), ainda é pequeno o trabalho com temática dança no ambiente escolar se comparado a outros temas da cultura corporal. Chegamos à conclusão que o trabalho com dança na escola possui grandes potencialidades, sendo necessário assim, ser mais tematizado nas escolas e mais discutido no meio acadêmico e também na formação de professores.
O presente artigo busca estabelecer o diálogo entre o chamado Currículo Cultural em Educação Física e os conceitos de Ética, Moral e Cidadania. Para tanto, elabora uma análise a partir da pesquisa de Neira realizada com docentes que afirmam trabalhar com o chamado Currículo Cultural e destaca os pontos que evidenciam a relação com as diferenças. Posteriormente, dialoga sobre a Experiência Estética e o Olhar Periférico, de acordo com Alves, Almeida e Santos, que ampliam a possibilidade de diálogo com os conceitos de Ética, Moral e Cidadania conforme texto de Almeida, subsidiado por Dussel e Ricouer. Ao final, destaca similitudes e aponta as possibilidades de uma Cidadania Ética relacionada ao Currículo Cultural da Educação Física.
Este artigo tem a finalidade de refletir sobre o conceito e as concepções históricas da cultura popular, bem como apontar alguns desafios e possibilidades de seu uso em âmbito escolar na contemporaneidade. Realizou-se uma revisão bibliográfica e consulta à legislação brasileira (1996, 2017), por meio de levantamento de artigos, documentos e livros de renomados autores, como Bakhtin (2010), Burke (2010), Santaella (2003), Canclini (2019), Pessoa (2018), Brasil (2017), Brasil (1996), entre outros. A pesquisa configurou-se de forma qualitativa e o conteúdo dos artigos, livros e documentos foram analisados de maneira crítica e interpretativa, alinhada à experiência docente dos autores. Os resultados revelaram que a prática da valorização da cultura popular em âmbito escolar é permeada por desafios, como por exemplo um currículo elitista que em muitas vezes acaba dificultado tal prática, pois acaba valorizando uma perspectiva monocultural, além disso quando trabalhado ocorre quase que somente em datas comemorativas e prioriza o conteúdo descontextualizado que contemple as avaliações em larga escala; dentre outros. Por outro lado, as novas tecnologias digitais se bem utilizadas poderão auxiliar as camadas subalternas a darem voz às suas experiências e os documentos oficiais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei nº 9.394/96 e a Base Nacional Comum Curricular que sinalizam uma autonomia às escolas, mesmo que limitada a trabalhar conteúdos das manifestações artísticas e culturais, no sentido de despertar nos estudantes o respeito à diversidade de saberes, identidade e culturas.
No Brasil, diversos estudos apontam para uma redução da cobertura vacinal entre os adolescentes. Isso se deve, principalmente, ao escasso conhecimento sobre as vacinas e doenças contra as quais protegem. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi analisar uma experiência de ensino com 28 estudantes do ensino médio. Como metodologia, foi utilizada uma sequência didática desenhada a partir dos princípios da pesquisa-ação, que abordou o tema vacinação, problematizando a educação em saúde individual e coletiva e a apropriação do conhecimento imunológico. Diante dos dados, verificou-se que a abordagem metodológica empregada provocou maior interesse, motivação e participação dos alunos, diferentemente do que, geralmente, acontece em aulas com abordagens de ensino tradicional. Além disso, foi possível explorar, de forma mais efetiva, as questões menos compreendidas e estimular a autonomia dos discentes no que tange à construção do conhecimento.
Este estudo tem o objetivo de discutir a Educação Escolar Quilombola – EEQ, como ela se constituiu por meio de políticas públicas educacionais voltadas para a população remanescente de quilombos em todo território nacional. Grupo esse que sempre esteve à margem da sociedade e dos bens por ela produzidos. Para compreender os processos de luta do movimento quilombola e como a EEQ se constituiu enquanto política nos apoiamos nas discussões de Larchert e Oliveira (2013), além de documentos oficias do estado brasileiro. Buscou-se analisar esta modalidade da Educação Básica à luz da Teoria da Reprodução Social surgida na segunda metade do século XX. Para tanto, mobilizamos autores, como Bourdieu (2007) Bourdieu e Passeron (2014) e Nogueira (2021) com os conceitos de Capital Cultural, Social e Econômico e Bernstein (2003) utilizando a discussão em torno do conceito de recontextualização. E por fim, efetuamos um diálogo entre a EEQ e o referencial teórico escolhido para compreender como a escola, o currículo e seus discursos têm contribuído para a reprodução social e, consequentemente, transformar desigualdades sociais em desigualdades educacionais. Destacamos que esta reflexão faz parte de um recorte teórico realizado na pesquisa de doutoramento em educação que está em andamento no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Ouro Preto. "O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001”.
O estudo objetivou investigar as percepções dos alunos sobre a prática profissional de uma professora de Educação Física com deficiência física. Trata-se de um estudo qualitativo no qual participaram 4 alunos acompanhados pela professora em atividade de personal trainner. Para coleta de dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas. Para análise dos dados, foram construídas quatro categorias, sendo elas: capacitismo; estética, corpo e padronização; preconceito e estigma e acessibilidade arquitetônica. Como resultados foi possível identificar a presença de preconceito manifestado por meio de posicionamentos dos alunos sobre a relação corpo e eficiência. Observa-se também que a valorização do corpo do profissional de Educação Física ainda carrega o pensamento estereotipado de um corpo esteticamente padronizado. Aspectos relacionados ao estigma e preconceito podem ser identificado em falas que afirmam que a profissão de personal trainner para pessoas com deficiência física é impensada ou foge à concepção de normalidade. O estudo conclui que as percepções dos alunos acerca da atuação profissional da personal trainner evidenciam aspectos capacitistas e se apresentam carregadas de estigma e preconceito.
Este trabalho é parte integrante da pesquisa que está em curso no Programa de Educação em nível de doutoramento na Universidade Federal de Ouro Preto, que tem por título “A pesquisa-ação na construção de práticas docentes decoloniais em uma escola quilombola no interior da Bahia”. Nele, tecemos uma discussão a partir dos referenciais decoloniais e nos ancoramos, especialmente, em autoras(es) que compõem o Grupo Modernidade Colonialidade, tais como: Aníbal Quijano, Walter Mignolo, Catherine Walsh, Fernando Coronil, Enrique Dussel, entre outros, para compreender como o processo de dominação colonial perdura até a contemporaneidade alimentando-se por meio da colonialidade. Construímos um diálogo acerca da constituição da Europa como centro do sistema-mundo capitalista e a América como a periferia a partir das lentes eurocêntricas. Em seguida, fomentamos um debate no qual a interculturalidade emerge como uma possibilidade viável de diálogo entre os saberes pelos distintos coletivos, tensionando a naturalização das desigualdades em suas múltiplas faces.
O estudo aqui apresentado objetivou analisar como um projeto de extensão, que tem como base a pesquisa-ação, contribuiu na formação de professores e alunos de graduação no que tange a inclusão da pessoa com deficiência no ensino fundamental I. O projeto aconteceu em escolas públicas dos municípios de Ouro Preto e Mariana em Minas Gerais e contou com a participação de professoras das escolas e alunas de graduação em Pedagogia. A pesquisa-ação foi a metodologia utilizada para fundamentar e orientar a ação do projeto. Como resultado foi possível identificar que a construção coletiva de ações pedagógicas, com base na metodologia proposta, propiciou reflexões e reelaborações das estratégias pedagógicas por parte dos professores. Em relação aos alunos de graduação, proporcionou o envolvimento com o campo da inclusão e a ressignificação de conceitos, bem como o repensar da futura prática docente. É possível concluir que a pesquisa-ação pode se configurar em importante ferramenta metodológica para formação inicial e continuada de professores.
Na última década temos visto um aumento da literatura, no campo da Educação Física, abordando casos de pessoas com deficiência, particularmente, casos de alunos. O estudo aqui proposto direciona o foco para o professor de Educação Física objetivando investigar a atuação de uma professora com deficiência física, que atua como personal training em uma academia de ginástica. A partir de uma abordagem qualitativa de investigação, optou-se por desenvolver um Estudo de Caso. Como resultados foi possível identificar uma profissão e um ambiente de trabalho atravessado pelo preconceito e pelo estereótipo, principalmente, no que diz respeito à estética do corpo. Por outro lado, os resultados também evidenciam a negação, por parte da personal training, sobre esses mesmos aspectos. O estudo considera que há uma tensão entre o preconceito velado e a posição de negação, desse preconceito, pela profissional.
Este trabalho objetivou identificar as práticas de leitura de professores de Ciências das redes municipal e estadual das cidades de Mariana e Ouro Preto - MG por meio de uma pesquisa quali-quantitativa. A coleta de dados foi realizada, em um primeiro momento, por intermédio da aplicação de questionários distribuídos a 20 professores de escolas públicas. Além disso, um fragmento de aula da mediação de leitura de uma professora foi analisado. Os resultados evidenciam que os exercícios fotocopiados estão muito presentes na sala de aula e a leitura de textos didáticos é realizada sem que os professores utilizem estratégias didáticas que os textos de ciências exigem. Nesse sentido, o propósito dos textos não leva os estudantes à compreensão dos conteúdos e dialogia nas aulas de Ciências.
Neste estudo, buscamos as narrativas como instrumental educativo para a pesquisa. Analisamos as memórias em textos escritos de alunas da Pedagogia. Fundamentadas nessa perspectiva, que toma a linguagem como ferramenta cultural usada para intercambiar experiências, será identificada nas histórias das alunas de pedagogia o que passou e tocou as alunas nas aulas de ciências ao longo de seu percurso como alunas. Não se trata apenas de identificar neste trabalho o que foi lembrado ou esquecido. Mas tentar compreender no fio que conduz e reconduz o discurso o que nos dizem certos elementos das aulas que são lembrados e aqueles outros que foram “esquecidos”. As categorias que serviram à análise das narrativas escritas das estudantes de Pedagogia foram o cronotopo do encontro, da aventura e da metamorfos. As narrativas levam à compreensão de diferentes sentidos das aulas de ciências. As narrativas levam à compreensão dos sentidos que as aulas de ciências vão se configurando para elas para o seu ofício de ensinar e à compreensão de como e porque algumas práticas pedagógicas persistem ao longo do tempo.
Este trabalho consiste na compreensão dos sentidos atribuídos à experiência, enquanto atos éticos e estéticos de dois fragmentos de aula de ciências nos anos iniciais do ensino fundamental, em que se construiu um terrário. Para desenvolver a investigação, buscou-se auxílio, especialmente, nas teorias de Bakhtin, Benjamin e Larrosa. O objetivo era analisar a compreensão da experiência de construção de um terrário por uma professora e alunos. Importante nesta investigação é que a aula com o terrário se apresenta no processo dialético em que o experimento só encontra sentido no dialogismo. Nesta perspectiva, a atividade experimental não é ação isolada do sujeito que a propõe. A investigação remete à necessidade de as professoras que ensinam Ciências nos anos iniciais vivam o sabor de ensinar ciências com experimentos, vivam ex-postas à experiência de ensinar como sujeitos da experiência descrita por Larrosa.
Este artigo apresenta a análise de uma aula experimental de ciências sobre a confecção de um terrário, extraída da dissertação de mestrado da autora Bárbara Luiza. Neste episódio,
buscamos compreender como uma professora que ensina Ciências para o quarto ano do ensino fundamental, na cidade de Mariana – MG, fez uso do livro de apoio metodológico “Trilhas para Ensina Ciências para Crianças” e, como oportunizou a reflexão aos alunos quando não obteve o resultado esperado em seu experimento. Em uma dimensão mais individual, os professores avaliam, usam e modificam as informações disponibilizadas em materiais de formação em função do seu trabalho diário. Considerando a dimensão social do trabalho do professor que ensina ciências para crianças, indagamos se os programas de formação inicial e continuada de docentes consideram o contexto de trabalho desse profissional. Nosso objetivo é contribuir para o fortalecimento do trabalho do professor da escola básica e provocar uma reflexão sobre os programas de formação docente.
Music consumption is widely recognized as an important facet of everyday life, and the use of algorithms by online streaming services to suggest songs has aroused a growing scientific interest in how musical preferences are structured. However, existing studies have failed to include Latin genres of music. Therefore, the aim of this study was to develop and validate a measure to assess the musical preferences of Spanish-speaking teenagers and adults. To do this, two independent studies were developed (N1 = 312 Spanish teenagers; N2 = 345 Spanish-speaking adults) using an instrument based on a theoretical structure consisting of 20 musical genres, which reflects the MUSIC model. The results indicated the exclusion of reggaetón for both groups, and confirmed the proposed theory of five dimensions of musical preferences: (a) Intense: emphasis on low sounds and use of electronic instruments; (b) Sophisticated: complex musical structure, dissonant harmonies, and melodies that explore unconventional patterns and diversified rhythms; (c) Contemporary: striking rhythm, emphasis on percussion and electronic instruments, versatility in the prosodic construction of lyrics, and often linked to themes such as inequality and social injustice; (d) Moving: strong connection to dance, especially partner dances, with strong potential for socialization; (e) Unpretentious: music with strong cultural roots specific to the research context. In conclusion, the Scale for Musical Preferences Assessment proved to be an effective instrument for assessing the musical preferences of teenagers and adults, presenting a standard structure for both groups, although there were differences in their perception of musical genres.
Diferentes autores têm reconhecido a importância de que os cursos de formação de professores busquem auxiliá-los no desenvolvimento de seus conhecimentos profissionais. Para que isso ocorra é necessário compreender quais são esses conhecimentos e como a formação acadêmico-profissional de professores pode contribuir para o desenvolvimento dos mesmos. Isso levou-nos a propor um modelo que caracteriza e discute os Conhecimentos Profissionais de Professores de Ciências em Formação (CPPF). Neste modelo, a articulação teoria-prática é o eixo norteador da formação de professores, e tem o potencial de favorecer o desenvolvimento, integração e transformação dos CPPF. Este modelo nos permitiu situar o conhecimento sobre analogias e sobre o uso de analogias como um elemento constituinte desses conhecimentos. Isso justifica nosso interesse em investigar como os conhecimentos profissionais de duas futuras professoras de Química sobre analogias e sobre o uso de analogias no ensino podem ter sido influenciados pelo processo formativo vivenciado na disciplina Práticas de Ensino de Química I, ministrada no curso de Química Licenciatura da Universidade Federal de Ouro Preto. A partir dos dados obtidos, elaboramos um estudo de caso, a partir do qual identificamos os conhecimentos sobre analogias e sobre o uso de analogias no ensino de Ciências expressos nos planejamentos, nas aulas ministradas e nas entrevistas realizadas com as futuras professoras, assim como a influência do processo formativo na manifestação dos mesmos. A análise dos resultados evidenciou que, ao longo do processo as futuras professoras apresentaram um avanço em suas concepções sobre analogias, destacando várias funções epistemológicas que elas podem assumir. Esses avanços nas concepções sobre analogias parecem ter ocorrido, principalmente, devido à influência da modelagem analógica vivenciada no processo formativo. Os conhecimentos sobre o uso de analogias no ensino também passaram por alterações significativas, pois as futuras professoras partiram de uma concepção na qual a analogia deveria ser integralmente apresentada e interpretada pelas futuras professoras, para uma na qual os estudantes deveriam participar ativamente de todo o processo de discussão da analogia. Essa mudança de foco na maneira de compreender o uso de analogias no ensino parece ter sido influenciada por diferentes etapas do processo formativo: modelagem analógica; os contextos de ensino experimentados; e a reflexão sobre os mesmos. Essas diferentes influências parecem ter contribuído de maneira complementar para que, ao final do processo, identificássemos conhecimentos coerentes, com base naqueles apontados pela literatura da área. A articulação teoria-prática mostrou-se central em nosso estudo, possibilitando a manifestação de vários elementos dos conhecimentos sobre analogias e sobre o uso de analogias no ensino, assim como a reflexão sobre esses conhecimentos. As discussões estabelecidas neste trabalho implicam em reconhecer os (futuros) professores como transformadores de conhecimentos e a sua formação fundamentada na lógica profissional. Nesse sentido, se estamos interessados que o uso de analogias no ensino se diferencie da mera transmissão/recepção de conhecimentos, devemos delinear processos formativos nos quais os futuros professores vivenciem situações práticas e reflitam sobre como utilizá-las de forma apropriada no ensino. Devido ao papel de destaque da modelagem analógica no processo formativo, ressaltamos a necessidade de que pesquisas adicionais sejam realizadas, visando compreender mais profundamente como este processo pode favorecer o desenvolvimento de conhecimentos sobre analogias e sobre o uso criativo de analogias no ensino.